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4/20/2010

A Água

Confesso que não tenho muito a dizer sobre o negócio das águas, uma vez que a minha principal discordância surge a montante dessas negociatas que se têm vindo a fazer. Na verdade, sou absolutamente contra a privatização deste sector económico. Não percebo como é que o Estado aliena uma das suas missões mais nobres e com maior relevo social em termos de serviço público: assegurar que cada ser humano tenha água potável à sua disposição a preços razoáveis. Os seres vivos até podem resistir uns dias sem alimento, mas nunca sem água. É que não há vida biológica sem água. A água é sinónima de vida.


Então o Estado, representado pelos diversos governos que vão passando pelo poder, vende essa sua nobre obrigação a privados? Como me assumo ideologicamente social-democrata, i.e., sociológica e politicamente colocado à esquerda, não consigo perceber esta medida. Aliás, estou indignado com esta cedência inaceitável à ditadura do poder económico.

Senão veja-se: se há o direito alienável de todo o ser humano à vida e à vida com dignidade, então e por maioria de razão, o principal pressuposto para o exercício desse direito é a existência de água. No que à água diz respeito, os políticos venderam-se – uma vez mais – aos senhores todos poderosos do dinheiro, os quais humilham e subjugam quem se lhes atravessa.

Sublinhe-se que já existem conflitos internacionais devido à posse de aquíferos potáveis e, estou convencido, que os mesmos vão aumentar.

Em Portugal, depois do 25 de Abril, uma das principais conquistas da revolução dos cravos foi o estabelecimento de uma rede de abastecimento de água potável extensiva a todo o território nacional, acompanhada de um esforço notável no que concerne ao saneamento básico. Na verdade, o poder público – governo central e, principalmente, as autarquias -, desenvolveram um trabalho fantástico que nos deveria encher a todos de orgulho, quer pela dimensão que assumiu, quer pelo curto espaço de tempo em que foi conseguido. Semelhante a todo este esforço, apenas encontramos paralelo no Serviço Nacional de Saúde – temos a mais baixa taxa de mortalidade infantil de toda a OCDE! – e na redução drástica do analfabetismo – resultado também único em todo o mundo!

Dá até a sensação que os privados aguardaram em silêncio que toda a rede de água fosse montada, para depois abalroarem abruptamente e sem piedade todo um sector que é, simplesmente, essencial para a sobrevivência da espécie humana e de todos os seres vivos. Neste contexto, os municípios começaram a ser forçados a vender parte substancial dos sectores das águas, visto que o polvo do sector privado que já nadava um pouco por todo lado começou, paulatinamente, a estender os seus tentáculos por todo o nosso território, cercando imparavelmente e com a aquiescência dos governos da nação, aqueles poucos municípios que ousavam resistir.

Obviamente, uma das formas de resistência que os municípios poderiam oferecer era funcionarem em bloco, agregando-se em associações intermunicipais, convidando parceiros privados, mas mantendo a maioria do capital na esfera pública. Não era uma vitória mas, para mim, seria uma derrota honrosa. Foi aquilo que a Câmara Municipal de Santarém tentou fazer em conjunto com autarquias vizinhas e que se designou – e ainda designa – Águas do Ribatejo.

Porém, o actual Presidente da Câmara Municipal de Santarém, qual génio saído da lâmpada, deliberou na sua insigne e excelsa erudição – que nos petrifica e esmaga quotidianamente -, que todos aqueles que integravam esse projecto eram mentecaptos e que apenas ele era inteligente. Aurea mediocritas! Claro, para Santarém e através daquela empresa, “apenas” estavam previstos mais de 6 milhões de contos em investimentos...

Julgando-se mais esperto que todos nós que sempre vivemos em Santarém, o Presidente da autarquia escalabitana quase conseguiu acabar com as Águas do Ribatejo e, saindo das mesmas, criou uma coisa denominada de Águas de Santarém, cujo parceiro privado ainda desconhecemos. Penso que todos perceberão que uma autarquia isolada nunca conseguirá sobreviver em condições razoáveis neste negócio, possuindo uma outra capacidade se inserida numa associação com outros municípios.

Saliente-se que com as Águas de Santarém os investimentos estão a anos-luz daqueles que estavam previstos para o Concelho de Santarém através das Águas do Ribatejo. Finalmente, convido o caro leitor a ir deitando o olho para o recibo das Águas de Santarém que lhe chega a casa todos os meses. Então, o que acha? Está contente? Olhe bem outra vez. Mais cara não é verdade? Pois é, pois é. E ainda vai ficar mais cara. Esteja atento caro leitor, esteja atento, porque o dinheiro vai sair ainda mais do seu bolso. Grande negócio este das Águas de Santarém!

Pedro Braz

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